sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Cemitério São Marcos – Ali jaz o respeito aos mortos...


Como se 1975 fosse ontem, a lembrança do “passamento” de uma tia-bisavó, acontecia numa tarde de chuva com sol como em dia de casamento de espanhol o que tornava o momento único e eu, com 7 anos, chorava uma saudade que, a partir dali, seria minha companheira...

O caminho, chamado passamento, era feito a pé e as pessoas que seguiam em solidariedade caminhavam cantando hinos alternando com orações em tom de drama... Fiquei com medo, confesso.

Enfim, depois de uma extenuante caminhada, pois minha parenta morava perto do Antigo Cine-Luz, me deparei com grandes muros que separavam os vivos dos mortos... Contudo, mesmo sabendo que ali era uma cidade de mortos, a curiosidade infantil me fez passear entre túmulos bem cuidados que pareciam gigantes devido a minha pequena altura com suas estátuas de anjos que me fazia tremer...

O cemitério parecia realmente uma cidade sem vida... Mas de forma estranha bela com seus jardins, flores, estátuas, fotos em preto e branco, epitáfios que já chamavam a minha atenção, pois, contavam a história de pessoas que residiam naquele Jardim de Pesar... A partir dali, a palavra saudade passou a ter um endereço chamado Cemitério São Marcos...

Passei a infância visitando o Cemitério no mínimo 2 vezes ao ano com meus avós. Não, não o Cemitério... Visitávamos a minha tia-bisavó entre outros parentes e amigos que se juntaram a ela... Tudo bem, realmente eu achava estranho visitar o cemitério para “encontrar” alguém que estava no céu, todavia, como dizia minha mãe, ali estavam apenas restos mortais e histórias de vidas, logo, para não esquecer que todos possuímos uma origem, uma descendência, assim, nossos mortos persistem a nos lembrar de onde viemos e para onde vamos um dia...

Minha família, como muitas que lá eu encontrava, comemorava a vida e lamentava a morte... Todos contavam de suas saudades e como era viver a partir do fim de alguém querido... Levavam flores, limpavam cuidadosamente o entorno de cada túmulo o que tornava o ambiente, mais que nunca, a cidade que eu via, com ruas, calçadas, jardins e estátuas a vigiar mais os vivos do que os mortos...

Uma observação, aquela cidade de túmulos era bem cuidada, já que, dentro daqueles muros havia a história de nossa gente de Monte Alegre, Cidade Nova e Telêmaco Borba...

Mas o tempo como o vento se passa...
Lá no São Marcos, junto com minha tia-bisavó há, agora, uma multidão de gente que viveu conosco hoje, esquecidos estão entregues a ação do tempo, do vento e do esquecimento...

O que acontece conosco em Telêmaco Borba?
Será que um cemitério é assunto pequeno diante da balburdia da saúde pública, do trânsito caótico, da falta de creches, dos buracos do asfalto, das filas do SUS, da violência pública... Um cemitério pode ser esquecido, pois, o orçamento público nunca se vota, o candidato da terra nunca vira nada, o pára-quedista chega “chegando”, o fulano que se canditará nas próximas eleições municipais precisa ser vigiado, o cargo prometido e não foi cumprido, as denúncias nas Redes Socias... O carro do secretário, as diárias dos poderosos, as contas do ex-prefeito, a CPI da Rodoviária, a festa de 50 anos... Enfim, a poluição sonora pública é muito maior que o silêncio funesto da Eterna Morada...


Confúcio pensador Chinês há mais de 1500 anos já dizia: “Para que preocuparmo-nos com a morte? A vida tem tantos problemas que temos de resolver primeiro...”

Texto By Gra Ekermann publicado no Jornal Expresso Notícias e, 14 de fevereiro de 2014.


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