quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014
E AGORA JOSÉ???
Em 2005 conheci um pequeno menino em frente à Padaria pedindo um pão, um leite, algo para comer... Todos os dias ali no mesmo horário lá estava com seus olhos de tristeza absoluta, de fome e desamparo...
Como não consigo ficar sem conversar perguntei seu nome: “Zé Ninguém,” me disse como sua avó o chamava... Naquele dia fiquei impressionada com o entendimento de sua cruel realidade. Perguntei o que ele queria: _ “Um pão tia, eu quero um pão...”
Os dias iam passando e Zé Ninguém sempre lá a espera de um pão, talvez um leite quem sabe atenção pensava eu... Aos poucos me aproximei e de apenas tia virei Tia Gra, o pão virou um lanche e seus olhos brilhavam quando eu chegava lá...
Na teoria dar esmolas, pagar lanches para tais crianças é um pecado, um crime. Esmolar significa incentivá-los a continuar como pedintes... Concordo... Contudo, meu coração não permitiu dar as costas e Zé Ninguém passou a fazer parte da minha história...
Um dia me explicou que não gostava de receber dinheiro, surpresa fiquei... “_ Com dinheiro na mão sou refém de meninos maiores que me tomam...” dizia ele, outro motivo era a sua avó que o lembrava: “Zé Ninguém não esqueça que temos fome, então peça comida...”
Os anos foram correndo e eu, testemunha da vida do Zé... Sim, ele freqüentava escola fato que auxiliava a avó com o Bolsa Família, dava pra por uma arroz e feijão na mesa que comiam muitos... Ele para repartir com os irmãos sempre ficava com a menor parte...
Pequei mil vezes, não pude cumprir na prática com a teoria da esmola... Penalizei-me mil vezes...
Zé vestiu muitas vezes roupas de meus filhos e ficou lindo, quantas vezes lhe pedi um sorriso e no máximo ganhei um parco olhar com brilho nos olhos querendo lá no fundo me falar que sua realidade não permitia ser feliz...
A vida voou e em 2012 perdi Zé de vista, não tive mais notícias por onde andava “Ninguém”... Pensei que, talvez, tivesse ido embora.
Nesta semana, encontrei “Zé Ninguém” numa esquina sentado no chão com um pão tardio matando quem lhe quer a vida... A fome sempre foi sua algoz e agora, mais que nunca, lhe escraviza com sordidez... Zé não é mais o pequeno de outrora, seu tamanho não condiz com sua inocência que, aliás, não perdeu... Sua idade? 17 anos. Um homem. Um rapaz que pelas feições tristes, as roupas sujas, curtas (me lembra Peter Pan), longe do local primeiro que era a padaria... Parei pra conversar e perguntar o que havia acontecido, qual foi a sua resposta? “_ Tia Gra eu cresci e agora as pessoas tem medo de mim...”
Zé Ninguém como na história de Peter Pan não queria crescer... Cresceu, porém...
Se criança fosse haveria sempre um adulto de coração mole feito o meu para alimentá-lo... Zé Ninguém se deparou com a parte cruel da teoria da esmola: Um dia a criança que recebe a esmola cresce...
Então pensei que Drummond fez seus versos para o meu amigo “José Ninguém”:
E agora, José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, José? ... Sozinho no escuro qual bicho-do-mato... Sem parede nua para se encostar, sem cavalo preto que fuja do galope, você marcha, José! José, para onde?
Texto By Gra Ekermann Publicado no Jornal Expresso Notícias de agosto de 2013.
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