“O
rei da brincadeira... Ê, José!
O rei da confusão... Ê, João!
Um trabalhava na feira... Ê, José!
Outro na construção... Ê, João!...”
O rei da confusão... Ê, João!
Um trabalhava na feira... Ê, José!
Outro na construção... Ê, João!...”
Um jovem no auge de sua vida, José, no auge
de sua juventude, João... Na ânsia de viverem, ambos, José e João, se deram o
direito de viver em êxtase como se o minuto seguinte não fosse mais existir...
NÃO EXISTIU – não para João...
Os jovens de um modo geral não acreditam que
a vida se finda e que no minuto seguinte, devido a alguma atitude mal calculada,
os resultados lhe serão muito caro... Nesta conta, deveriam levar em consideração
a priori suas famílias. “Família” deveria ser o primeiro argumento para o jovem
não seguir em frente com sua coragem de meia pataca...
Como segundo argumento diria a VIDA... Diante
da parca vivência a imprudência faz morada naturalmente nos atos da juventude...
Por que ser prudente se os riscos sempre valem a pena? Depois, quando nada sair
errado virão as risadas, as falácias nas rodas de amigos onde sob o efeito de
muita cerveja o feito dará ao mesmo status de arrojado, macho, O CARA...
Imperito o jovem? Imagina... Muitos jamais aceitarão a hipótese de ser um
imperito em relação à sua vida. Dizem em alto e bom tom que sabem sempre o que estão fazendo, sabem
sempre por onde estão andando e com quem caminham... Sabem como ninguém usar a
velocidade de um carro ou uma moto a seu favor... Ao amigo que se foi,
depois de algumas lágrimas e bastante sofrimento vão lembrar que ele não soube entrar
bem na curva, não soube usar o freio, foi o azar... Não sabem estes jovens que
eles da vida nada sabem... Muitos não chegarão a idade madura para pensar nos
erros que um dia cometeram...
Negligentes? Bem, esta palavra sequer existe
no dicionário do jovem... Desconhecem o seu significado literal... Falta de cuidado, descuido, desatenção, displicência...
Enfim, sem generalizar, mas, boa parte dos jovens não tem a atenção que
deveriam com suas vidas, com suas responsabilidades, com suas obrigações...
São 4:30 da manhã. Acordo
num sobressalto com um barulho ensurdecedor... Parece ser um grande acidente...
Meu coração fica em minhas mãos, que trêmulas se unem pedindo ao Deus que
proteja a todos que nessa hora se encontram nas ruas... Em seguida uma sirene e
logo mais outra... Tenho a certeza de que algo ruim aconteceu... Penso que
segurança pública é um tema que me tira o sono, não apenas porque presido um
Conselho e diariamente busco encontrar soluções no meio da balburdia e
imprudência da juventude que, sem medos e sem limites, desafiam não apenas as
regras de uma sociedade organizada, mas as regras da vida... Tenho certeza que
houve um acidente e que isto faz parte da segurança também, posto que, o jovem
na ânsia de viver é uma arma em potencial que perambula com sua coragem em
errar, fraudar, ir além do que é possível e o resultado é a tragicidade,
sempre...
Fico aqui no alto dos meus
45 anos observando a jovem que fui, talvez, não tive coragem pra ousar morrer moça
e restei como muitos contemporâneos que ora, juntos, compomos uma cidade, que,
aliás, chora a perda de mais um filho... Muitos amigos que viveram e morreram
na minha história chamar-me-iam naqueles dias de COVARDE, deles resta-me a saudade e a certeza
de que minha coragem era para viver e não para morrer... Espero que a nossa
juventude entenda o quadro da dor - Se acovarde ao risco - Escolha viver – Fuja
da regra onde ser jovem é correr riscos e ouse Viver por um mundo melhor.
“Amanhã
não tem feira... Ê, José!
Não tem mais construção... Ê, João!
Não tem mais brincadeira... Ê, José!
Não tem mais confusão... Ê, João...”
Não tem mais construção... Ê, João!
Não tem mais brincadeira... Ê, José!
Não tem mais confusão... Ê, João...”
(versos
da música Domingo no Parque de Gilberto Gil)
Texto By Gra Ekermann publicado em outubro de 2013 no Jornal Expresso Notícias
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